O
BRASIL PRÉ-CABRALINO (ANTES DA CHEGADA DOS NAVEGADORES PORTUGUESES)
O
primeiro brasileiro
O primeiro brasileiro
encontrado foi apenas um crânio que recebeu o nome de crânio de Luzia) encontrado em 1975, com cerca de 11 mil anos de
idade. Mas há quem acredite que estamos por aqui há muito mais tempo.
Afinal,
quem foram e como viviam os primeiros brasileiros? Será que nossa terra só se
iniciou com a chegada dos portugueses?
O naturalista dinamarquês
Peter Wilhelm Lund, em 1836, foi o primeiro a se interessar pelo Brasil antes
de Cabral. Sua descoberta mais importante ocorreu na Gruta do Sumidouro, perto
de Lagoa Santa, MG. Em meio a ossos de grandes mamíferos, ele achou os primeiros
fósseis humanos no Brasil.
Como
o homem teria chegado ao Continente Americano?
Teoria do Estreito de Bering: os primeiros grupos
humanos teriam atravessado a pé o Estreito de Bering, vindo da Ásia para a
América, há cerca de 15 mil anos, durante o fim da Era Glacial. Depois migraram
em direção ao sul, em busca de regiões mais quentes; eles teriam levado por
volta de dois mil anos, até chegar á Patagônia, no limite sul da América.
Teoria da Navegação pelo
Oceano Pacífico: A
arqueóloga brasileira Niède Guidon, discorda: para ela o homem já ocupava o
Brasil há mais de 60 mil anos. Ela se baseia em vestígios encontrados perto de
uma fogueira, que teriam 48 mil anos. Para Niède, o primeiro americano teria
vindo da Austrália, em embarcações simples.
Sua teoria é muito questionada, pois as dificuldades seriam muitas. Até
hoje não foram encontrados ossos humanos anteriores há 15 mil anos nas
Américas.
Os
antigos habitantes do Brasil
Os
homens de Lagoa Santa: viviam em pequenos grupos, eram
nômades, caçavam animais de pequeno porte, e coletavam vegetais. Não ficavam
mais que duas semanas no mesmo lugar. Por isso, não enterravam seus mortos
(Luzia foi encontrada jogada no fundo de uma caverna). Desapareceram por volta
de 6 mil anos atrás, devido à miscigenação (mistura) racial com outro povo, de
aparência semelhante a dos índios atuais, que apareceu na região em número
muito maior. As populações se misturaram e com o tempo os Homens de Lagoa Santa
desapareceram.
Povos
dos Sambaquis: Originários do litoral brasileiro ocuparam do
Espírito Santo ao Rio Grande do Sul. Foi uma civilização que ficou conhecida
pelas edificações que erguiam para sepultar seus mortos: os sambaquis(sedimentos, principalmente
conchas e ossos de animais, cuidadosamente empilhados, que chegavam a ter 40
metros de altura e mais de 500m de comprimento).
Os sambaquieiros, como
ficaram conhecidos, utilizavam os sambaquis não apenas como sepultura, mas ali também
realizavam rituais e construíam suas casas. Alimentavam-se basicamente da pesca
e coleta de frutos do mar, feitas com o auxilio de canoas e redes. Desapareceram
a cerca de mil anos, com a chegada de povos vindos do planalto, que os
obrigaram a se afastar de seu local de origem, esquecendo suas tradições e se
misturando ao conquistador.
Os
povos da Amazônia
Marajoaras:
Os
registros mais antigos da presença dos homens na Amazônia foram descobertos em
1996. As pinturas rupestres encontradas em Monte Alegre, no Pará, datam de 11
mil anos. A civilização marajoara desenvolveu-se na Ilha de Marajó entre os
anos 400 e 1300 d.C., dominavam a agricultura e suas aldeias chegavam a abrigar
entre 5 e 6 mil habitantes. Eram excelentes engenheiros e construíram aterros
artificiais que se elevavam até 12 metros acima do solo. De caráter cerimonial,
seus desenhos mostram o mundo simbólico e religioso dos marajoaras. Eles
desapareceram misteriosamente por volta de 1300.
Tapajós: A
superpotência da época era a civilização tapajônica, que ocupava a região da
atual cidade de Santarém, no Pará. Mesmo após o contato com os europeus, eles
ainda eram uma das maiores e mais poderosas nações indígenas da Amazônia. Suas
tribos eram tão populosas que seus caciques chegavam a mobilizar até 60 mil
homens para o combate.
Tupis:
A
Amazônia foi o ponto de partida dos tupis, um povo tecnologicamente avançado e
conquistador, que levou ao declínio os povos coletores e caçadores. Partindo de
onde ficam, hoje, os estados de Rondônia e do Amazonas, deixaram a região em
duas levas principais: os tupis-guaranis desceram o Rio Paraná e chegaram à
região Sul e os tupinambás seguiram pelo Rio Amazonas até sua foz, e dali, rumo
ao sul, pela costa.
Viviam em grandes aldeias,
com milhares de pessoas, as quais funcionavam como cidades. Conheciam a
agricultura, produziam cerâmicas para cozinhar e eram um povo conquistador. A
guerra, além de demarcar territórios, servia para o desenvolvimento de
lideranças.
Eram os
indígenas do grupo dos Tupis que, no dia
22 de abril de 1500, estavam na praia, naquela manhã, quando a esquadra
portuguesa, comandada por Pedro Álvares Cabral, chegou às novas terras, que
seria o Brasil, no Continente Americano.
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PERÍODO PRÉ-COLONIAL BRASILEIRO (1500-1530)
PERÍODO PRÉ-COLONIAL BRASILEIRO (1500-1530)
Ø Não
há ocupação, pois não se encontrou nada de grande valor.
Ø Exploração
de pau-brasil, única coisa que interessou para Portugal.
Ø Comércio
feito com os indígenas através do escambo (trocas de produtos sem uso de dinheiro).
Ø Expedições
navais de reconhecimento geográfico e guarda costa.
Ø Instalação
de feitorias (entrepostos comerciais europeus em territórios estrangeiros).
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COLONIZAÇÃO DO BRASIL
COLONIZAÇÃO DO BRASIL
A
ocupação ocorreu para que não se perdesse o território, pois havia uma grande
quantidade de contrabandistas, principalmente franceses, na costa brasileira.
Outros fatores que contribuíram para a colonização foram o descobrimento de
ouro e prata na América Espanhola e o declínio do comércio com as Índias.
Em
1532, Martim Afonso de Souza funda São Vicente.
Para que ocorresse a ocupação territorial,
era necessário organizar a administração da colônia garantindo a defesa do
território e a arrecadação de impostos.
Capitanias Hereditárias (1534/1759): Portugal
não tinha capital para ocupar as terras brasileiras, para solucionar a situação
criou as Capitanias Hereditárias, pois com elas o custo da colonização era
transferido para particulares.
O
capitão donatário recebia a capitania para administrar e custear, não era dono
de toda a capitania apenas de uma faixa da mesma o restante era administrado
por ele e deveria ser doado para colonos que quisessem e tivessem condições
financeiras de produzir algo, essas doações eram chamadas Sesmarias. Cada
Capitania tinha 60 léguas (396 Km) e cada Sesmaria 10 léguas (66 km).
A
ligação jurídica existente entre o rei de Portugal e cada um dos donatários era
fundamentada por dois documentos capitais:
●
Carta de Doação: atribuía ao donatário a posse hereditária da capitania, quando
de sua morte seus descendentes continuavam a administrá-la, sendo proibida a
sua venda.
● Carta foral:
Estabelecia os direitos e deveres dos donatários para com as terras.
Direitos e Deveres dos
donatários:
●
Criar um vilarejo e doar terras – as famosas sesmarias – a quem interessasse
cultivá-las. Seus sesmeiros, após dois anos de uso, passavam a ser donos
efetivos da terra.
● Desempenhar o papel de autoridade
judicial e administrativa com plenos poderes, até mesmo autorizar a pena de
morte, caso se torne necessário.
● Escravizar os índios, impondo-lhes o
trabalho na lavoura, podendo inclusive enviar cerca de 30 índios, anualmente,
como escravos para Portugal.
●
Receber a 20% dos lucros sobre o comércio do Pau-Brasil.
● O donatário tinha a obrigação de
entregar para o rei de Portugal 10% da receita adquirida com a comercialização
dos produtos da terra.
● Cabia à Coroa portuguesa 20% dos
metais preciosos encontrados nas terras do donatário.
● O
direito exclusivo sobre o Pau-Brasil.
Analisando os direitos e
deveres dos donatários, conclui-se com muita facilidade que o rei de Portugal
acabava ficando com os mais rentáveis benefícios para si, enquanto os encargos
permaneciam com os donatários.
O
sistema de capitanias hereditárias, sob o ponto de vista dos donatários, não
alcançou o tão desejado lucro ambicionado por eles. As dificuldades para se
governar as capitanias eram enormes, os recursos financeiros eram mínimos,
Portugal encontrava-se à grande distância, sem falar nos ataques indígenas, que
eram constantes.
Somente
duas capitanias sobreviveram graças à lavoura canavieira, Pernambuco e São
Vicente, as outras fracassaram pelos motivos acima citados.
A
Capitania de Pernambuco, a mais rica, ganhou muito através do comércio do
açúcar, já a de São Vicente, devido a maior distância de Portugal, acabou por
se dedicar à economia de subsistência. As demais alcançaram os objetivos
esperados somente do ponto de vista político, na visão da metrópole, ou seja, a
preservação das terras e sua possibilidade de exploração.
Conforme
iam fracassando, retornavam para o governo português, o qual alterava suas
dimensões, conferindo novos contornos para as províncias de Portugal que faziam
limite com o Oceano Atlântico. Estavam moldados os atuais estados litorâneos.
Portugal,
ao compreender os riscos que corria seu projeto colonizador, decidiu que era
melhor centralizar o governo do Brasil nas mãos de uma única pessoa. Em 1548
enviou o nosso primeiro governador-geral – Tomé de Sousa.
Governo
Geral (1548-1808)
Respondendo
ao fracasso do sistema das capitanias hereditárias, o governo português
realizou a centralização da administração colonial com a criação do governo-geral,
em 1548 sem, contudo, extinguir as capitanias, conforme essas faliam ou o
donatário morria sem deixar herdeiros, a capitania voltava para a coroa
portuguesa.
Entre
as justificativas mais comuns para que a capitania viesse a entrar em falência,
podemos destacar o isolamento entre as capitanias, a falta de interesse ou
experiência administrativa e a própria resistência contra a ocupação
territorial oferecida pelos índios.
Em
vias gerais, o governador-geral deveria viabilizar a criação de novos engenhos,
a integração dos indígenas com os centros de colonização, o combate do comércio
ilegal, construir embarcações, defender os colonos e realizar a busca por
metais preciosos. Mesmo que centralizadora essa experiência não determinou que
o governador cumprisse todas essas tarefas por si só. De tal modo, o
governo-geral trouxe a criação de novos cargos administrativos.
O
ouvidor-mor era o funcionário responsável pela resolução de todos os problemas
de natureza judiciária e o cumprimento das leis vigentes. O chamado
provedor-mor estabelecia os seus trabalhos na organização dos gastos
administrativos e na arrecadação dos impostos cobrados. Além destas duas
autoridades, o capitão-mor desenvolvia ações militares de defesa que estavam,
principalmente, ligadas ao combate dos invasores estrangeiros e ao ataque dos
nativos.
Enquanto
as capitanias e o governo geral coexistiram (1548-1759) o organograma foi o
seguinte:
Os
três primeiros governadores gerais foram:
Tomé de Souza (1549-1553)
Ø Chegou
ao Brasil em 29 de março de 1549, juntamente com soldados, colonos, materiais
para se construir a primeira cidade e alguns animais.
Ø Fundou
a primeira capital – Salvador (1549).
Ø Formou
o primeiro bispado – D. Sardinha.
Ø Introduziu
o gado no território, trazido de Cabo Verde.
Ø Trouxe
as primeiras mulheres brancas e os primeiros jesuítas – Padre Manoel da
Nobrega.
Duarte
da Costa (1553-1558)
Ø Enfrentou
disputas entre colonos e jesuítas (Padre José de Anchieta) devido a
escravização indígena praticada pelos colonos.
Ø 1555-1567:
enfrentou a invasão francesa da Baía da Guanabara (RJ), chamada de França
Antártica.
Ø Desentendeu-se
com D. Sardinha, devido a críticas feitas ao filho de Duarte da Costa.
Mem
de Sá (1548-1572)
Ø Fundação
de São Sebastião do Rio de Janeiro (1565).
Ø Expulsou
os franceses.
Devido
à dificuldade de comunicação nos séculos XVI e XVII quem vai ter poder de
decisão no dia-a-dia eram as Câmaras Municipais, que eram ocupadas pelos
“homens bons” (homens de sangue português, ricos, que não exercessem nenhum
tipo de trabalho manual é que podiam ser eleitos e votar, basicamente eram os
grandes senhores de terra). Por esse motivo é que pouco se fala nos demais
Governadores Gerais.
A
solução açucareira
Como
já vimos a colônia só era interessante à metrópole na medida em que gerasse
lucros à mesma, portanto, era necessário introduzir um produto que gerrase esse
lucro. A escolha foi a cana-de-açúcar.
Motivos:
Ø Solo
(massapé) e clima favoráveis.
Ø Experiência
anterior nas ilhas africanas.
Ø Produto
conhecido e caro.
Problemas:
Ø Falta
de capital para transportar para a Europa, bem como para iniciar a produção. A
solução foi formar uma parceria com a Holanda.
Organização
da produção
Após
dividir o Brasil em Sesmarias era necessária organizar a produção o sistema
adotado foi o plantation ou
plantagem.
O
Sistema escravista
O
tráfico (comércio) de escravos africanos gerava lucro para a metrópole, pois
para traficar escravos era necessário pagar taxas à Portugal, enquanto que no
comércio de índios o lucro ficava todo com os colonos, isso explica porque se
optou pelo escravo africano.
Além
disso, os missionários religiosos, principalmente jesuítas, eram contrários à
escravização indígena, pois queriam catequizá-los para compensar as perdas e
fiéis para a Reforma Protestante. A escravidão indígena acabou sendo proibida
em 1758.
Havia também o
problema da grande mortalidade indígena devido às doenças portuguesas. Ainda
assim, nas regiões mais pobres o índio foi escravizado já que custava em média
três vezes menos que o africano.
De
acordo com o IBGE, chegaram ao Brasil entre os séculos XVI e XIX 4.009.400
escravos. No entanto, muitos mais saíram da África, mas em média 20% dos negros
morriam durante a viagem, tanto que os navios negreiros foram apelidados de
navios tumbeiros.
A
escravidão gerou o envilecimento (tornar vil – desprezível, ruim) do trabalho
manual, o preconceito e o racismo no Brasil.
Sociedade
açucareira
A
sociedade colonial brasileira e por muito tempo depois, foi:
Ø Estratificada
(dividida em classes sociais de acordo com o poder econômico e sem grande
mobilidade social).
Ø Rural
(baseada na propriedade agrícola).
Ø Patriarcal
(quando o homem tem poder absoluto sobre a família e agregados).
Ø Aristocrática
(o poder político era dominado por um grupo elitista, nesse caso o
grupo de senhores engenho).
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INVASÕES ESTRANGEIRAS NO BRASIL COLONIAL
INVASÕES ESTRANGEIRAS NO BRASIL COLONIAL
Três países estiveram
presentes no Brasil durante o período colonial.
Inglaterra –
pirataria; se restringiu a ataques costeiros.
França –
pirataria costeira e ocupações territoriais
França Antártica – 1555/1567 – RJ
França Equinocial – 1612/1615 – MA
Holanda: foi
a mais importante, devido sua longa duração, número de tropas envolvidas e
consequências.
Entre as causas da invasão
holandesa destacam-se a queda de Portugal sob domínio espanhol, a chamada União
Ibérica (1580-1640), só voltando a ser independente após uma Revolta em 1640.
Antecedentes das Invasões
Holandesas
Com a morte de D. João III,
em 1557, subiu ao trono português seu neto D. Sebastião, o qual morreu em
combate durante a Batalha de Alcácer Quibir, em 1578.
Declarado vago o trono,
coroou-se rei o Cardeal D. Henrique, de idade avançada, tio-avô de D. Sebastião
que veio a falecer em 1580, sem deixar herdeiros. Com isso, vários “candidatos”
apresentaram-se entre eles D. Antonio, prior (superior religioso) do Crato e
Filipe II de Habsburgo, rei da Espanha e neto de D. João III.
D. Antonio fez-se proclamar
rei, mas Filipe II invadiu o país, derrotando-o militarmente e iniciando a
União Ibérica.
A Holanda era domínio
espanhol até 1581 quando, devido à intolerância religiosa e política de Filipe
II, se tornou independente. Devido a isso a Espanha, como retaliação, proibiu o
acesso holandês ao açúcar brasileiro.
Diante desse impedimento, em
1621, a Holanda cria a Companhia das Índias Ocidentais (América) que organiza
as invasões holandesas no Brasil.
1ª
Invasão – 1624/1625
Ø Salvador
Ø Enfrentou
grande resistência.
Ø “Jornada
dos Vassalos” – mais de 50 embarcações para expulsar os holandeses.
2ª
Invasão – 1630/1654
Ø Utilizou
a prata conseguida com a captura de uma frota espanhola.
Ø Divide-se
em três fases:
Ø Conquista – 1630/1635
Pernambuco
– enfrentam guerra contra os senhores de engenho
Ø Acomodação – 1635/1645
Os senhores de engenho percebendo que seus lucros eram
cada vez mais baixos e precisando de dinheiro para retomar a produção aliam-se
aos holandeses.
Neste período a Companhia das Índias Ocidentais, fez
empréstimos aos senhores para que retomassem a produção com prazo de dez anos
para o pagamento. Também é nessa época que Maurício de Nassau vem da Holanda
para ser governador sendo grande responsável pelo desenvolvimento da região e
pela urbanização do Recife.
Ø Expulsão – 1645/1654
Em 1640 ocorreu o fim da União Ibérica e o Duque de
Bragança D. João IV assumiu o trono português. Diante da inevitável invasão
espanhola fez um acordo com a Holanda onde reconhecia o domínio holandês por
dez anos sobre o Nordeste brasileiro, porém secretamente apoiava a resistência
que crescia no Nordeste contra o domínio holandês.
Por volta de 1645 vencia o prazo para o pagamento dos
empréstimos feitos aos senhores pela Holanda, diante da impossibilidade de
pagar devido à inúmeros contratempos e da iniciativa da Companhia das Índias
Ocidentais de cobrar judicialmente, os senhores de engenho se uniram aos
revoltosos e expulsaram os holandeses em 1654, aproveitando-se de uma guerra
entre Holanda e Inglaterra.
A rendição holandesa no Brasil, assinada em 26 de Janeiro
de 1654, conhecida como "Capitulação do Campo (campanha ou campina) do
Taborda", fixou os termos e as condições pelas quais os membros do
Conselho Supremo do Recife (holandeses) entregavam ao Mestre de Campo, General
Francisco Barreto de Menezes, Governador da Capitania de Pernambuco, a cidade
Maurícia, Recife, e mais forças e fortes junto deles, e os lugares que tinham
ocupado ao Norte.
Consequências da ocupação
holandesa
A expulsão dos holandeses
trouxe consequências internas e externas para o Brasil:
Ø Perda
do monopólio do açúcar – a Holanda passa produzir açúcar nas Antilhas, o que
faz com que o preço do produto caia pela metade, devido a menor distância com o
mercado consumidor europeu, a utilização de melhores técnicas de plantio, bem
como a utilização de subprodutos como o melaço, a aguardente, entre outros.
Ø Disputas
entre a elite colonial e a metrópole – a elite colonial por ter tido forte
participação na expulsão dos holandeses passa questionar a metrópole.
Ø A
Inglaterra passa a ser o principal aliado português em troca de concessões
econômicas e com isso passa a ter forte influência sobre o Brasil.
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EXPANSÃO
TERRITORIAL BRASILEIRA (SÉCULOS XVI E XVII)
A expansão do território
brasileiro para além do Tratado de Tordesilhas se deu por causa,
principalmente, da atuação dos jesuítas e dos bandeirantes, mas também de
colonos e comerciantes que se deslocaram em busca de terras e produtos.
A Companhia de Jesus
A Companhia de Jesus foi
criada por Inácio de Loyola em 1534 na Espanha. Os jesuítas tinham como
objetivo combater o protestantismo, utilizando como método o ensinamento
religioso, especialmente preparado para isso.
A Companhia de Jesus não era
como as outras ordens religiosas. Tendo combatentes como seus integrantes, tinham
eles, como deveres de ofício (obrigação), eliminar os que viessem a se opor aos
princípios do catolicismo, infiltrando-se, para isto, nas atividades culturais
e sociais.
A tarefa principal dos
Jesuítas era o combate contra o movimento protestante e à Inquisição,
principalmente na Espanha e na Itália. Chegaram ao Brasil em 1549 e iniciaram
suas atividades de catequese (evangelização dos índios) na cidade de Salvador
ao erguer um colégio e ali fundar a Província Brasileira da Companhia de Jesus.
Bandeirantismo
O núcleo de partida dos
bandeirantes era a Capitania de São Vicente que era pobre, isolada. Contava com
homens experientes em se embrenhar na mata; mesmo assim não houve
enriquecimento nem da Capitania, nem dos Bandeirantes.
Bandeiras de caça ao índio(
±1610-1650)
O índio era capturado e
vendido como escravo por 1/3 do valor do escravo
africano.
Eram comuns os ataques às
missões jesuíticas, principalmente a Oeste do Paraná. Esses índios, por já
estarem adaptados ao convívio com os brancos, eram vendidos mais caro.
Bandeiras de busca ao ouro (±1650-1720)
Feitas tanto por particulares
como com financiamento da Coroa Portuguesa, só alcançaram seu objetivo no final
do século XVII, quando o ouro foi encontrado na região das Minas Gerais.
Sertanismo de Contrato: homens
eram contratados para lutar contra os índios o combater quilombos no Nordeste.
O Mito Bandeirante: o bandeirante era tratado pela historiografia
paulista como herói porém, apesar de
ser responsável por expandir o território, ele também capturou, escravizou e
matou muitos índios.
Sua imagem, comumente
representada como um cavaleiro, com suas botas e roupas ao gosto europeu, pouco
ou nada representam a realidade. O bandeirante andava descalço e adquiriu
muitos hábitos indígenas, para sobreviver na mata.
Pecuária
(criação de gado)
Expansão da pecuária no
Sertão Nordestino
A pecuária foi introduzida
pelos Senhores de Engenho para servir como força motriz (bois moviam engenhos),
transporte (carros de boi), alimentação (às vezes) e atividade complementar
(venda). Era feita de forma extensiva, sendo comum o gado pisotear a plantação.
Esse fator fez com que, aos poucos, a pecuária se afastasse em direção ao
interior, levando a um processo de ocupação do sertão nordestino. Assim, a criação
de gado se separa da produção de açúcar.
O gado era vendido para os
Senhores de Engenho mas, com a crise do açúcar, o gado passou a ser criado para
consumo próprio.
Expansão da Região Sul
Na Região Sul, a pecuária
havia sido introduzida pelos jesuítas espanhóis mas, com os constantes ataques
bandeirantes, essas missões foram se deslocando cada vez mais para o Sul, onde
também seriam atacados.
Os ataques faziam o gado
fugir e se dispersar, encontrando condições ideais para a reprodução (pasto
abundante). Com a grande quantidade de gado solto, os colonos paulistas foram
atraídos, para aprisiona-los. Nessa
peregrinação, de ida e volta, foram fundando vilas pelo caminho.
A princípio o gado era
utilizado apenas para retirada do couro. Com o descobrimento de ouro nas Minas
Gerais, passou a ser aprisionado e vendido para os garimpeiros, principalmente
para transporte (gado muar). No início do século XVIII, com a técnica de charqueamento
(produção de carne seca) a carne passa a ser muito utilizada.
Nessa região também
ocorreu uma expansão oficial, pois era uma região importante estrategicamente,
devido ao Rio da Prata, que servia como
porta de entrada e saída de mercadorias para o interior da América do Sul. Em
1680, foifundada a Colônia do
Sacramento.
Ficou determinado:
- para os espanhóis, a Colônia e a região dos
Sete Povos das Missões ( que depois passou a compor grande parte do estado do
Rio Grande do Sul e do Uruguai);
- para a
soberania dos portugueses: a margem esquerda do rio da Prata, pequenas faixas fronteiriças e a Ilha de Santa
Catarina (ocupada poucos meses antes e devolvida).
Expansão
da Região Norte
Em 1621, iniciou-se uma
expansão oficial com a criação do Estado do Maranhão e do Grão Pará, para afastar
contrabandistas; Portugal chegou a construir fortes militares.
Na região do Vale do Rio
Amazonas houve uma intensa procura por Drogas do Sertão (cacau, pimenta,
guaraná, etc.). No Maranhão, as Drogas do Sertão tiveram menor importância,
sendo a região utilizada para o plantio de algodão, que era exportado para a
Inglaterra em substituição do algodão dos EUA que, em 1776, se tornara
independente da Inglaterra (no fim do século XVIII, o Brasil era o maior
produtor dealgodão do mundo).
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MINERAÇÃO
NO BRASIL COLONIAL
A época da mineração no
período colonial abrangeu basicamente o século XVIII, com o seu apogeu entre
1750 e 1770. Nessa fase, a vida econômica da colônia se voltou quase que
exclusivamente para o extrativismo
mineral. Aas principais regiões auríferas foram: Minas Gerais, Mato Grosso
e Goiás. Anteriormente, já haviam ocorrido as explorações do ouro de lavagem,
em São Paulo, Paraná e Bahia, mas, com resultados inexpressivos.
Após a notícia da
descoberta, milhares de pessoas saíram de suas regiões rumo às minas. Milhares
de africanos foram trazidos da África para trabalharem como escravos. Toda
concentração do trabalho se limitava somente à mineração do ouro da região, não
se plantava mais, a comida tornou-se escassa e a fome assolou as regiões
mineiras. Havia pouquíssimos comerciantes e cobravam caro por qualquer produto.
A mineração dos anos 1700
foi desenvolvida a partir do ouro de aluvião (estava na superfície
terrestre – fácil extração). Exigia baixo nível técnico e provocou rápido
esgotamento das jazidas.
No extrativismo aurífero, as
formas de exploração mais comuns encontradas eram as lavras (extração em
que era utilizada a mão de obra escrava e se aplicava uma técnica mais apurada)
e a faiscação (extração individual, realizada principalmente por homens
livres e com poucos equipamentos).
A Guerra dos Emboabas (1707-1709)
Os estrangeiros (pessoas de
outras regiões do Brasil e de Portugal) usavam botas e foram apelidados
pejorativamente de emboabas (do
tupi, aves pernaltas).
Esse conflito se deu entre
os estrangeiros( emboabas) contra os bandeirantes (paulistas), que haviam
descoberto o ouro e alegavam o direito de explorá-lo. Terminou com a vitória dos emboabas.
Legislação,
órgãos e tributos da mineração
Iniciada a mineração, o rei
de Portugal criou, em 1702, a INTENDÊNCIA DAS MINAS – órgão encarregado de
controlar a exploração do ouro, cobrar impostos e julgar os crimes praticados
na região.
A partir de então,
quando o minerador descobria uma mina, era obrigado por lei a informar o
intendente. Este mandava dividir a mina em lotes auríferos chamados datas. O descobridor tinha direito a
escolher duas datas; a seguinte era reservada ao rei, as outras distribuídas
aos mineradores; as maiores iam para quem tivesse mais escravos.
Ao mesmo tempo em que incentivava a
extração do ouro, a intendência criava e cobrava pesados impostos. O mais
importante deles era o QUINTO (20% de todo o ouro extraído). Quanto maior a
opressão fiscal, mais a população reagia, praticando o contrabando. (Ex.: O
santo do pau oco).
As Casas de Fundição e a
Revolta de Vila Rica
Com
o aumento do contrabando do ouro, em 1719, o governo português, criou as Casas de Fundição (locais onde o ouro
era transformado em barras, selado e quintado – o quinto era separado, como
imposto ao governo português). A partir de então o transporte e uso de ouro em
pó ficava proibido).
A criação das Casas de
Fundição gerou uma revolta, onde os manifestantes reivindicavam:
Ø A
redução do preço dos alimentos;
Ø A
anulação do decreto que criava asCasas de Fundição.
Em 1720, liderados pelo tropeiro
Filipe dos Santos, grupos de revoltosos reivindicavam o fechamento das Casas de
Fundição. O governador regional prometeu atender a demanda do grupo; por isso,
o grupo deixou a Vila do Carmo e retornou à Vila Rica, à espera das ações do
governador. No entanto, isso serviu para que as tropas portuguesas se
organizassem contra os revoltosos. No dia 14 de julho iniciou-se o conflito que
prendeu vários participantes e condenou Filipe dos Santos à morte e ao
esquartejamento.
A Finta e a Derrama
Em 1750, época do apogeu do
ouro, foi instituído o quinto por estimativa, conhecido como finta, ou seja, a fixação de uma cota
fixa de 100 arrobas (1500 Kg), que incidia sobre toda a região aurífera.
Com o ouro se tornando
escasso, essa cota não era alcançada, gerando-se um déficit (dívida) que se
avolumava a cada ano. Com isso, em 1765, foi instituída a derrama, forma arbitrária de cobrança do quinto atrasado, que
deveria ser pago por toda a população da região, inclusive com bens pessoais.
Essa extorsiva tributação de impostos aumentou o descontentamento contra os
abusos da metrópole.
A
exploração dos diamantes
Por volta de 1729, descobriram-se
as primeiras jazidas diamantíferas no arraial do Tijuco ou Serro Frio, hoje Diamantina. Tinha
início, assim, a exploração dos diamantes no Brasil.
Em 1733, foi criado o Distrito Diamantino, única área
demarcada em que se podia explorar legalmente as jazidas. A exploração no
início era livre, mediante o pagamento do quinto e da capitação sobre o
trabalhador escravo.
Em 1739, a livre extração
cedeu lugar ao sistema de contrato,
que deu origem aos ricos contratadores,
como João Fernandes, estreitamente ligado à lendária figura de Xica da Silva
(pesquise).
Diante de irregularidades e
do desvio dos impostos, além do alto valor que alcançavam as pedras na Europa,
em 1771, foi decretada a régia extração, que contava com o
trabalho de escravos alugados pela coroa. Posteriormente, com nova liberação da
exploração, foi criado o Livro
de Capa Verde, contendo o registro dos exploradores, e o Regimento dos Diamantes,
procurando disciplinar a extração. Contudo, o monopólio estatal sobre os diamantes
vigorou até 1832.
As consequências da
mineração
Ø Aumento
populacional, devido à migração (onze vezes mais habitantes, em um século).
Ø Surgimento
de cidades e aumento da urbanização.
Ø Surgimento
de uma camada média na sociedade (comerciantes, profissionais liberais,
militares, etc.).
Crescimento do mercado
interno – o comércio entre as Minas e outras regiões, cresceu consideravelmente
(NE – Gado, couro e farinha; RJ – Africanos escravizados e artigos importados; SP
– Milho, trigo; Sul – Cavalos, bois, mulas e charque).
Ø Transferência
da capital do Brasil, de Salvador para o Rio de Janeiro.
Ø A
"corrida do ouro" promoveu a penetração e o povoamento do interior do
Brasil, anulando em definitivo a velha demarcação do Tratado de Tordesilhas.
A formação da Sociedade Mineira
Geralmente quem enriquecia nas minas eram comerciantes e tropeiros,
através do lucro nos negócios. A classe média estava em crescimento e
era composta por pequenos lavradores, artesãos, profissionais liberais, padres,
garimpeiros, donos de vendas e artistas. Os homens livres pobres,
na maioria negros e mestiços, eram procurados quando havia algum trabalho
pesado ou perigoso. Chegavam a fazer alguns trabalhos como obras públicas,
segurança pessoal, combater índios e destruir quilombos. Os escravos trabalhavam
na mineração, transportavam mercadorias e pessoas, construíam casas, estradas,
dentre outras obras. Também comerciavam pelas ruas e lavras. Alguns proprietários
alugavam seus escravos, que eram chamados “escravos de ganho”.
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CRISE DO SISTEMA COLONIAL
CRISE DO SISTEMA COLONIAL
Na segunda metade do século
XVIII, o Antigo Regime Colonial entrava em crise, devido aos fatores: Revolução
Industrial, Revolução Francesa, Iluminismo e Independência dos EUA. Essa nova
situação gerou uma crise no Sistema Colonial, porque as colônias começavam a
questionar a exploração que sofriam da Metrópole.
Declínio
colonial: A exploração da Colônia gerava, paralelamente, o
desenvolvimento da mesma, o que colaborou para dar a ela condições para a
independência. O Brasil sempre
apresentou contradições internas: a princípio, havia disputas entre colonos e
índios; depois vieram os missionários, que se opunham à forma de exploração
realizada pelos colonos; quando o africano começou a ser escravizado, as lutas
se estabeleceram com os senhores. Por fim, as disputas se instalaram entre a
classe dominante da própria colônia e a Metrópole. No fundo, a disputa era
travada entre consumidores e o monopólio metropolitano.
Rebeliões
Nativistas: A crise, na Europa, entre o capitalismo
comercial português e os interesses ingleses não são motivos suficientes para
explicar o desmoronamento do sistema colonial. As contradições internas da
colonização foram os fatores determinantes.
As primeiras rebeliões
nativistas não se manifestaram com a ideia de conseguir a independência do
Brasil. A princípio, apenas contestavam os aspectos específicos do pacto
colonial, não contestavam a dominação integral da Metrópole. Além disso, tinham
caráter regionalista, não se
preocupando com a unidade nacional. Ocorreram entre 1641 e 1720 e foram, na
prática, esforços de defesa contra certos aspectos da exploração colonial. Daí,
até chegar à ideia de autonomia completa em relação a Portugal, foi um longo
processo.
Somente um século depois,
quando a exploração da Colônia se agravou e a situação internacional se tornou
propícia, é que as rebeliões adquiriram caráter de libertação nacional,
exigindo-se a extinção do pacto colonial e a autonomia política.
As rebeliões nativistas
tomaram destaque a partir dos fins do século XVII e não representavam um “sentimento
nacional”. Entre os principais levantes, destacamos:
Revolta
de Beckman (1684, Maranhão): Com a saída dos holandeses
do Brasil e a crise da economia açucareira, a região Nordeste tornou-se lugar
de recorrentes crises de abastecimento e estagnação econômica. Ao final do
século XVII, esses problemas fizeram do Maranhão uma das regiões mais carentes
de todo o nordeste brasileiro. Tentando intervir na economia local, Portugal,
em 1682 , decidiu criar a Companhia Geral do Comércio do Estado do Maranhão,
que deveria desempenhar obrigações essenciais: comprar os gêneros agrícolas da
região, vender produtos manufaturados e suprir as elites coloniais com um
carregamento anual de quinhentos escravos.
No entanto, ao longo do
tempo, a ineficácia financeira e administrativa lusitana em nada melhorou a
situação. Os fazendeiros não recebiam os lotes de escravos do governo e
desgastavam-se em conflitos contra os jesuítas, que impediam a escravização dos
índios. Além disso, a Companhia do Comércio não adquiria toda produção agrícola
e negociava manufaturados de má qualidade e com altos preços. Dessa forma, a
população maranhense tinha seus problemas de ordem econômica agravados,
mediante sua dependência em relação à Coroa.
Em 24 de fevereiro de 1684,
aproveitando da ausência do governador, um grupo de manifestantes promoveu uma
grande confusão em São Luís. Os revoltosos prenderam o governador interino,
invadiram os colégios jesuítas e saquearam os galpões da Companhia de Comércio.
Liderados pelos irmãos Manuel e Tomás Beckman, a revolta exigia a melhora das
relações entre Maranhão e Portugal. Ao longo de quase um ano, Manuel Beckman,
também conhecido como Bequimão, controlou uma junta revolucionária que tomou o
poder político da província e Tomás Beckman dirigiu-se a Portugal para
reafirmar lealdade às autoridades lusitanas e denunciar as infrações cometidas
pela Companhia de Comércio. Impassível a uma possível negociação, Portugal
respondeu ao levante com a nomeação de um novo governador para o Maranhão e o
envio de tropas que deveriam aniquilar o movimento. Ao chegar ao Maranhão, as
tropas deram fim ao levante e os irmãos Beckman foram condenados ao
enforcamento. Em 1685, com a confirmação das denúncias, a Companhia foi extinta
pela Coroa.
Guerra
dos Emboabas (1708-1709, Minas Gerais): Na primeira década do século
XVIII, os comentários sobre grandes reservas auríferas na região de Minas
Gerais se espalharam rapidamente pelo Brasil e Portugal, ocasionando um grande
movimento em direção a essa região.
A região de Minas Gerais
pertencia a São Paulo e foram os paulistas que descobriram as reservas de ouro.
Por isso, estes passaram a defender sua exclusividade na exploração do ouro. Os
“estrangeiros”, principalmente baianos e portugueses, representavam uma ameaça
à exploração dos paulistas, desencadeando vários conflitos armados na zona
aurífera. A Guerra dos Emboabas terminou com a vitória dos emboabas e a região
passou a ser controlada diretamente pela metrópole. Assim, foram estabelecidas
normas que passaram a regulamentar a repartição de lavras entre paulistas e
estrangeiros, além da cobrança do quinto, um imposto sobre todas as
riquezas geradas pelo ouro.
Revolta
de Filipe dos Santos (1720, Vila Rica, Minas Gerais) A
exploração da colonização portuguesa no Brasil assumiu diferentes formas e
intensidades ao logo da trajetória do Brasil Colônia. Porém, a definição das atividades
mineradoras como principal atividade econômica do século XVII deu margem para
um sistema de tributação (impostos) e fiscalização nunca antes observadas em
nossa história colonial.
A região de Minas Gerais, maior
centro de mineração, também foi o local propício para diversos episódios de
indignação e revolta contra o controle massivo das autoridades metropolitanas.
Portugal resolveu
implementar uma série de tributações a serem aplicadas na região das Minas
Gerais, ao observar a ameaça de seus
lucros, com o contrabando e a livre exploração dos minérios. Em 1719, os portugueses
instituíram as Casas de Fundição, que funcionariam como centros de cobrança
e controle sobre as riquezas extraídas do solo.
Além da tributação
(impostos) sobre os minérios, a formação de diversos centros urbanos (vilas na
região) trouxe outra notável fonte de renda à Metrópole. Pelo pacto colonial,
os colonos eram obrigados a pagar alto preço pelos artigos manufaturados, que
vinham de Portugal. Devido a esta exploração e controle, houve a deflagração da
Revolta de Filipe dos Santos, em 1720.
A hostilidade e a
desconfiança instaladas na região das minas faziam com que qualquer suspeita de
contrabando ou sonegação acionassem a rígida ação das tropas metropolitanas. Um
grupo de mineiros, liderado pelo tropeiro Filipe dos Santos, reivindicava o fechamento das Casas de Fundição e resolveu
atacar a casa do ouvidor-mor, principal autoridade judicial da região. Logo em
seguida, dirigiram-se para Vila do Carmo a fim de pressionar o governador da
região, que prometeu atender a demanda do grupo.
O levante retornou à Vila
Rica à espera das ações do governador. No entanto, as tropas portuguesas se organizassem
contra os revoltosos e, no dia 14 de julho iniciou-se o conflito, que prendeu
vários participantes e condenou Filipe dos Santos à morte e ao esquartejamento.
Guerra
dos Mascates (1710 – 1711, Pernambuco) -
No nordeste, a
partir de 1654, a expulsão definitiva dos holandeses de Pernambuco provocou uma
grande mudança no cenário econômico daquela região. Os grandes produtores de
açúcar que, anteriormente, usufruíram dos investimentos holandeses, agora
viviam uma crise decorrente da baixa do açúcar no mercado internacional e à
concorrência do açúcar produzido nas Antilhas. Contudo, os Senhores de Engenho
ainda possuíam o controle do cenário político local por meio do poder exercido
na Câmara Municipal de Olinda.
Em contrapartida, Recife,
região vizinha e politicamente subordinada à Olinda - era considerada o
principal polo de desenvolvimento econômico de Pernambuco. O comércio da
cidade trazia grandes lucros aos portugueses, que controlavam a atividade
comercial da região. Recife ocupava posição favorável devido às diversas
melhorias empreendidas na cidade com a colonização holandesa, que havia
transformado a cidade em seu principal centro administrativo.
Com o passar do tempo, a
divergência da situação política e econômica entre os fazendeiros de Olinda e
os comerciantes portugueses de Recife criou uma tensão local. Inicialmente,
os Senhores de Engenho de Olinda, viviam sérias dificuldades para investirem no
negócio açucareiro e pediram vários empréstimos aos comerciantes portugueses de
Recife. Devido à crise açucareira, muitos não tiveram condições de honrar seus
compromissos. Além da complicada situação econômica de Olin,da somava-se o
completo sucateamento da cidade, que sofreu com as guerras que expulsaram os
holandeses. Por isso, a Câmara de Olinda decidiu aumentar os impostos de toda a
região, incluindo Recife, para que fosse possível se recuperar. Inconformados,
os comerciantes portugueses, chamados de “mascates”, buscaram se livrar da
dominação política olindense. Conseguiram elevar o seu povoado à categoria de
vila, tendo dessa maneira o direito a formar uma Câmara Municipal autônoma.Os
latifundiários de Olinda ficaram bastante apreensivos, pois temiam que, dessa
forma, os comerciantes portugueses tivessem meios para exigir o pagamento
imediato das dívidas que tinham a receber. A definição das fronteiras dos dois
municípios serviu como estopim para o conflito.
A Guerra dos Mascates teve
início em 1710, com a vitória dos olindenses que conseguiram invadir e controlar
a nova cidade de Recife. Logo em seguida, os recifenses conseguiram retomar o
controle de sua cidade em uma reação militar apoiada por autoridades políticas
de outras capitanias. O movimento foi interrompido no momento em que a Coroa
Portuguesa indicou, em 1711, a nomeação de um novo governante, que teria como
principal missão estabelecer um ponto final ao conflito.
O governador apoiou os
mascates portugueses e estipulou a prisão de todos os latifundiários olindenses
envolvidos com a guerra. Decidiu transferir semestralmente a administração para
cada uma das cidades. Dessa maneira, não haveria razões para que uma cidade fosse
politicamente favorecida.
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MOVIMENTOS DE PRÉ-INDEPENDÊNCIA
Conforme o declínio do
Período Colonial Brasileiro ia se acentuando, aumentava o descontentamento da
população colonial em relação à Metrópole. Assim, surgiram revoltas que
pretendiam a independência. Estas revoltas tiveram maior ou menor
participação da população, conforme o caso. Todas elas, no entanto, foram
lideradas por elementos da camada média da população, que adotavam a ideologia
liberal(liberalismo) e não obtiveram apoio da classe dominante.
No que se referem à ideologia,
os movimentos de pré-independência tiveram uma característica importante. O
liberalismo por eles adotado tinha surgido na Europa como consequência da desagregação
do Antigo Regime. Era, portanto uma ideologia revolucionária e que representava
basicamente os interesses da burguesia industrial. Adotado no Brasil, o
liberalismo passava a ter um aspecto contraditório: o de uma ideologia burguesa
num país que não possuía burguesia. Daí decorrem as limitações que as ideias
liberais sempre tiveram entre nós: adotadas como teoria, raramente podiam ser
aplicadas na prática. E quando aplicadas – sob a forma de um liberalismo de
fachada – acabavam por beneficiar mais às potências europeias do que ao Brasil.
Os principais movimentos de
pré-independência foram, a Inconfidência Mineira (1789), a Conjuração Baiana ou
Revolta dos Alfaiates (1798) e a Revolução Pernambucana (1817).
Inconfidência Mineira
A classe mais dominante de
Minas Gerais (proprietários rurais, intelectuais, clérigos e militares)
descontentes, começaram a se reunir para conspirar, devido ao forte controle
imposto por Portugal na região mineradora
A conjuração pretendia
eliminar a dominação portuguesa das Minas Gerais, estabelecendo um país
independente. Não havia a intenção de libertar toda a colônia brasileira, pois
naquele momento uma identidade nacional ainda não havia se formado. A forma de
governo escolhida foi o estabelecimento de uma República, inspirada
pelas ideias iluministas da França e da Independência dos Estados Unidos da América
(1776). Não havia uma intenção clara de libertar os escravos, pois muitos dos
participantes do movimento eram senhores de escravos, portanto, utilizavam essa
mão de obra.
As reuniões aconteciam em
casa de Cláudio Manuel da Costa e de Tomás Antônio Gonzaga (poetas), onde se
discutiram os planos e as leis para a nova ordem, tendo sido desenhada a
bandeira da nova República, – uma bandeira branca com um triângulo e a
expressão latina "Libertas Quae Sera Tamen" - "liberdade ainda que tardia".
O novo governador das Minas,
o Visconde de Barbacena (Luís António Furtado de Castro do Rio de Mendonça e
Faro), estava determinado a lançar a derrama
(cobrança de impostos), por isso, os conspiradores acertaram que a
revolução deveria irromper no dia em que fosse decretada a derrama. Esperavam
que nesse momento, com o apoio do povo descontente e da tropa sublevada
(exército em revolta), o movimento fosse vitorioso.
A conspiração foi
desmantelada em 1789 - ano da Revolução Francesa. O movimento foi traído por
Joaquim Silvério dos Reis, que fez a denúncia para obter perdão de suas dívidas
com a Coroa. Com base nas denúncias, o Visconde de Barbacena mandou abrir, em
junho de 1789, a sua devassa (investigação).
Os réus foram acusados do
crime de "lesa-majestade" (traição cometida contra a pessoa do Rei,
ou seu Real Estado). Os líderes do movimento foram detidos e enviados para o
Rio de Janeiro. Durante o inquérito judicial, todos negaram a sua participação
no movimento, menos o alferes (antigo posto militar, equivalente ao atual de
segundo-tenente) Joaquim José da Silva Xavier – o Tiradentes - que assumiu a
responsabilidade de chefia do movimento. Doze dos inconfidentes foram
condenados à morte. Mas, em audiência no dia seguinte, foi lido decreto de
Maria I de Portugal pelo qual tiveram a pena substituída por condenações mais
leves. Apenas Tiradentes foi condenado à morte. Os degredados civis e militares
foram remetidos para as colônias portuguesas na África, e os religiosos
recolhidos a conventos em Portugal.
A Inconfidência Mineira
transformou-se em símbolo máximo de resistência para os mineiros, a exemplo da
Guerra dos Farrapos para os gaúchos, e da Revolução Constitucionalista de 1932
para os paulistas. A Bandeira idealizada pelos inconfidentes foi adotada por
Minas Gerais.
A
execução de Tiradentes e exposição pública do seu corpo
Tiradentes, o conjurado de mais baixa condição
social, foi o único condenado à morte por enforcamento, sendo a sentença
executada publicamente a 21 de abril de 1792 no Campo da Lampadosa. A casa onde
ele viveu foi destruída.
Tiradentes, ao contrário do
que se pensa, não tinha barba e cabelos longos quando foi enforcado. Na prisão,
onde ficou por algum tempo, teve o cabelo e barba raspados para evitar a
proliferação de piolhos, a própria posição de alferes não permitia tal
aparência. Após a decapitação e exposição pública, a cabeça de Tiradentes foi
furtada, sendo o seu paradeiro desconhecido até os dias de hoje.
Joaquim José da Silva
Xavier, o Tiradentes, foi alçado posteriormente, pela República Brasileira, à
condição de um dos maiores mártires da independência do Brasil e como um dos
precursores da República no país.
Conjuração Baiana ou Revolta dos
Alfaiates - chamada Revolta dos Búzios)
Salvador fervilhava com
queixas contra o governo, cuja política elevava os preços das mercadorias mais
essenciais, causando a falta de alimentos, chegando o povo a arrombar os
açougues, devido à falta de carne.
O clima de insubordinação
contaminou os quartéis, e as ideias revolucionárias, que já haviam animado
Minas Gerais, foram amplamente divulgadas, encontrando eco sobretudo nas
classes mais humildes.
A todos influenciava o
exemplo da independência das Treze Colônias Inglesas, e as ideias iluministas,
republicanas e emancipacionistas eram difundidas também por uma parte da elite
culta, reunida em associações, como a Loja Maçônica Cavaleiros da Luz
Os seis pontos da Conjuração
Baiana eram: a abolição da escravidão; Proclamação da República; Diminuição dos
Impostos; Abertura dos Portos; Fim do Preconceito; Aumento Salarial. Seu
principal líder foi Cipriano Barata, conhecido como médico dos pobres e
revolucionário de todas as revoluções.
Em 12 de Agosto de 1798,
alguns de seus membros, distribuindo panfletos na porta das igrejas e
colando-os nas esquinas da cidade, alertaram as autoridades que, de pronto,
reagiram, detendo-os. Tal como na Conjuração Mineira, interrogados, acabaram
delatando os demais envolvidos.
Um desses panfletos
declarava: "Animai-vos povo baiense que está para chegar o tempo feliz da
nossa Liberdade: o tempo em que todos seremos irmãos: o tempo em que todos
seremos iguais." .
Durante a fase de repressão,
centenas de pessoas foram denunciadas - militares, clérigos (religiosos),
funcionários públicos e pessoas de todas as classes sociais. Destas, quarenta e
nove foram detidas, a maioria negou sua participação.
Finalmente, no dia 8 de
Novembro de 1799, procedeu-se à execução dos condenados à pena capital, por
enforcamento, na seguinte ordem: soldado Lucas Dantas do Amorim Torres; aprendiz
de alfaiate Manuel Faustino dos Santos Lira; soldado Luís Gonzaga das Virgens;
e mestre alfaiate João de Deus Nascimento. O quinto condenado à pena capital, o
ourives Luís Pires, fugitivo, jamais foi localizado. Pela sentença, todos
tiveram os seus nomes e memórias "malditos" até à 3a. geração. Os
despojos dos executados foram expostos, para exemplo da população, por cinco
dias, em diferentes pontos da cidade, tendo sido recolhidos pela Santa Casa de
Misericórdia (instituição responsável pelos cemitérios à época do Brasil
Colônia), que os fez sepultar em local desconhecido.
Os demais envolvidos foram
condenados à pena de degredo, receberam publicamente 500 chibatadas no
Pelourinho (à época no Terreiro de Jesus), e foram depois conduzidos para
assistir a execução dos sentenciados à pena capital.
O movimento envolveu
indivíduos de setores urbanos e os marginalizados na produção da riqueza
colonial, que se revoltaram contra o sistema que lhes impedia de ascensão
social. O seu descontentamento voltava-se contra a elevada carga de impostos
cobrada pela Coroa portuguesa e contra o sistema escravista colonial, o que
tornava as suas reivindicações particularmente perturbadoras para as elites.
A revolta resultou em um dos
projetos mais radicais do período colonial, propondo idealmente uma nova sociedade
igualitária e democrática, que foi barbaramente punida pela Coroa de Portugal.
Este movimento, entretanto, deixou profundas marcas na sociedade soteropolitana
(de Salvador, capital da Bahia), a ponto tal que novo movimento emancipacionista
eclodiu em 1821, culminando na Guerra pela Independência da Bahia, concretizada
em 2 de julho de 1823. (O Brasil se emancipara a 7 de setembro de 1822, estando
sob o império de D. Pedro I).
Revolução Pernambucana
Além de sua importância
econômica e política, os pernambucanos tinham participado de diversas lutas
libertárias. A primeira e mais importante tinha sido a Insurreição
Pernambucana, em 1645. Depois, na Guerra dos Mascates, foi aventada a
possibilidade de proclamar a independência de Olinda.
As ideias liberais que
entravam no Brasil junto com os viajantes estrangeiros e por meio de livros e
de outras publicações, incentivavam o sentimento de revolta entre a elite
pernambucana, que participava ativamente, desde o fim do século XVIII, de
sociedades secretas, como as lojas maçônicas. Reuniam-se intelectuais,
religiosos e militares, para elaborar planos para a revolução.
Causas
da revolução: a presença maciça de portugueses na
liderança do governo e na administração pública; a criação de novos impostos
por Dom João VI provocando a insatisfação da população pernambucana; a grande
seca que havia atingia a região, acentuando a fome e a miséria; as influências
do exterior, com a divulgação das ideias liberais e iluministas; a crescente
pressão dos abolicionistas na Europa, criando restrições gradativas ao tráfico
de escravos, que tornavam a mão de obra cada vez mais cara (a escravidão era o
motor de toda a economia agrária pernambucana). O movimento queria a
independência do Brasil e a proclamação da República.
O
movimento iniciou-se com a ocupação do Recife, em 6 de março de 1817.
Liderado por Domingos José Martins, com o
apoio de Antônio Carlos de Andrada e Silva e de Frei Caneca, o movimento dominou
o Governo Provincial, se apossou do tesouro da província, instalou um governo
provisório e proclamou a República.
Em 29 de março foi convocada
uma Assembleia Constituinte, com representantes eleitos em todas as comarcas. Foi
estabelecida: a separação entre os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário;
o catolicismo foi mantido como religião oficial, porém havia liberdade de
culto; foi proclamada a liberdade de imprensa (uma grande novidade no Brasil);
foram abolidos alguns impostos. A
escravidão, entretanto, foi mantida.
As tentativas de obter apoio
das províncias vizinhas fracassaram. Tropas enviadas da Bahia avançaram pelo
sertão pernambucano, enquanto uma força naval, despachada do Rio de Janeiro,
bloqueou o porto do Recife. Em poucos dias, 8000 homens cercavam a província.
No interior, a batalha decisiva foi travada na localidade de Ipojuca.
Derrotados, os revolucionários tiveram de recuar em direção ao Recife. Em 19 de
maio as tropas portuguesas entraram no Recife e encontraram a cidade abandonada
e sem defesa. O governo provisório, isolado, se rendeu no dia seguinte.
Apesar de sentenças severas, um ano depois
todos os revoltosos foram anistiados, e apenas quatro haviam sido executados.
Dominada a revolução, foi
desmembrada de Pernambuco a comarca de Rio Grande (atual Rio Grande
do Norte), tornando-se província autônoma. Essa havia sido anexada ao
território pernambucano ainda na segunda metade do século XVIII, juntamente a Ceará
e Paraíba, que também se tornaram autônomas ainda no período
colonial, em 1799. Também a comarca de Alagoas, cujos proprietários
rurais haviam se mantido fiéis à Coroa, como recompensa, puderam formar uma
província independente.
Apesar dos revolucionários
terem ficado no poder menos de três meses, conseguiram abalar a confiança na
construção do império americano (sonhado por D. João VI), a coroa portuguesa
nunca mais estaria segura de que seus súditos eram imunes à contaminação das
ideias de liberdade, vindas da Europa.
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PERÍODO JOANINO (1808-1821)
PERÍODO JOANINO (1808-1821)
A Europa, por volta de 1800,
sofria com as Guerras Napoleônicas. A França disputava o controle europeu com
as nações absolutistas (motivos políticos) e o controle dos mares com a
Inglaterra (motivos econômicos).
Em terra, Napoleão era
praticamente imbatível e dominou quase toda a Europa. No entanto, a marinha
napoleônica era frágil e não conseguia vencer a forte esquadra britânica. Como
não conseguia vencer militarmente a Inglaterra, Napoleão resolveu sufocá-la
economicamente, impondo, em 1806, o Bloqueio Continental, através do
qual todos os países europeus estavam proibidos de comercializar com a
Inglaterra; que desobedecesse seria invadido.
Nessa época, Portugal era
extremamente dependente da Inglaterra e, por medo de uma invasão, tentou
manter-se neutro (movimento pendular de D. João VI). Porém em 1807, sofrendo
forte pressão da Inglaterra e ameaçado pela certeza da invasão napoleônica,
toda a corte (cerca de 15000 pessoas) embarcam em direção do Brasil.
A ideia de transferir a sede
do Império português para o Brasil não era nova, já havia sido pensada em
outros momentos de crise (no século XVI, um pouco antes da União Ibérica (1580-1640),
um dos pretendentes ao trono sugeriu a ida para o Brasil, para evitar que
Portugal caísse no domínio espanhol).
A Família real embarcou,
tomando-se a bordo as últimas decisões. No dia 29 de novembro o Príncipe
Regente ordenou a partida. Quatro naus da Marinha Real Britânica, sob o comando
do capitão Graham Moore, reforçaram a esquadra portuguesa até o Brasil.
Napoleão invadiu Portugal. O
general francês, Junot, entrou em Lisboa, liderando um exército de cerca 26 mil
homens e tendo à sua frente um destacamento da cavalaria portuguesa, que se
rendera e se pusera às suas ordens.
D. João VI no Brasil
As embarcações chegaram à
costa da Bahia a 18 de janeiro de 1808 e, no dia 22, os habitantes de Salvador
já puderam avistar os navios da esquadra. A comitiva real desembarcou em meio a
uma grande solenidade. A esquadra partiu de Salvador rumo ao Rio de Janeiro,
capital da Colônia, onde chegou no dia 8 de março, desembarcando no cais do
Largo do Paço (atual Praça XV de Novembro).
Os membros da Família Real
foram alojados em três prédios no centro da cidade. Os demais agregados
espalharam-se pela cidade, em residências confiscadas da população, assinaladas
com as iniciais "P.R." ("Príncipe-Regente"), o que deu
origem ao trocadilho "Ponha-se na Rua", ou "Prédio Roubado"
como os mais irônicos diziam à época.
O fim do pacto colonial
Em Salvador, foi assinado o
Decreto de Abertura dos Portos às Nações Amigas. Esse decreto pôs fim ao
monopólio comercial, beneficiou a Inglaterra, que poderia vender seus produtos
no Brasil; os latifundiários do Brasil, que poderiam vender seus produtos a
outros países e não só a Portugal e comprar produtos mais baratos (devido a
concorrência); a D. João VI, que passou a arrecadar impostos sobre os produtos
importados. Para os comerciantes portugueses essa abertura foi péssima, pois
criou uma concorrência que até então não existia.
Outra medida tomada logo
após a chegada da corte ao Brasil: foi declarada guerra à França; em 1809, foi
ocupada a Guiana Francesa.
Em abril de 1808, o Príncipe
Regente decretou a suspensão do alvará de 1785, que proibia a criação de
indústrias no Brasil. Ficavam, assim, autorizadas as atividades industriais em
território colonial. A medida permitiu a instalação, em 1811, de duas fábricas
de ferro, em São Paulo e em Minas Gerais. Mas o desenvolvimento parou por aí,
pois a presença de artigos ingleses bem elaborados e a preços relativamente
acessíveis, bloqueava a produção de similares em território brasileiro. A
eficácia da medida seria anulada pela assinatura dos Tratados de 1810: o
Tratado de Aliança e Amizade e o Tratado de Comércio e Navegação.
Além disso, entre as
mudanças que ocorreram com a vinda da Família Real para o Brasil destacam-se:
Ø fundação
do primeiro Banco do Brasil, em 1808;
Ø criação
da Imprensa Régia, autorização para o funcionamento de tipografias e publicação
de jornais (1808);
Ø criação
da Academia Real Militar (1810);
Ø abertura
de algumas escolas, sendo duas de Medicina – uma na Bahia e outra no Rio de
Janeiro;
Ø instalação
de uma fábrica de pólvora e de indústrias de ferro em Minas Gerais e em São
Paulo;
Ø vinda
da Missão Artística Francesa, em 1816; fundação da Academia de Belas-Artes;
Ø mudança
de denominação das unidades territoriais, que deixaram de se chamar "capitanias" e passaram a
denominar-se de "províncias"
(1821);
Ø criação
da Biblioteca Real (1810), do Jardim Botânico (1811) e do Museu Real (1818),
mais tarde Museu Nacional;
Os
Tratados de 1810
Estes
tratados mostram a dependência de Portugal em relação à Inglaterra.
Ø Taxa
alfandegária especial para a Inglaterra.
País
|
Até
1808
|
1808
|
1810
|
Portugal
|
48% - monopólio
comercial
|
16%
|
16%
|
Inglaterra
|
---
|
24%
|
15%
|
Outros
|
---
|
24%
|
24%
|
ØØ Princípio
da extraterritorialidade: um inglês que cometesse um crime no Brasil, seria
julgado pela justiça inglesa (o inverso não ocorria).
Ø Liberdade
religiosa:
Inglês – protestante
Português – católico
Escravos – continuavam proibidos de
praticar suas religiões
Ø Compromisso
com o fim do tráfico negreiro: a Inglaterra combatia a escravidão para aumentar
o mercado consumidor para seus produtos.
Ø Permanência
de uma esquadra inglesa no Rio de Janeiro, como proteção à Família Real. Na
realidade, era uma forma de pressão da Inglaterra sobre a Família Real.
A
elevação do Brasil a Reino Unido
Em
16 de dezembro de 1815, o Brasil foi elevado à categoria de Reino Unido a
Portugal e Algarves. Isso ocorreu porque o Congresso de Viena não reconhecia o
trono português, uma vez que a corte se encontrava no Rio de Janeiro, e não em
Lisboa, sede da monarquia de Portugal.
A
Coroa Portuguesa e os latifundiários brasileiros viam com agrado a legitimação
da permanência da Corte de D. João no Rio de Janeiro, por entender que
significava a extinção dos laços coloniais e o impedimento à volta do pacto
colonial. Na prática, a elevação do Brasil a Reino Unido seria um grande passo
em direção à independência.
Revolução
do Porto (Portugal) – 1820
Em
Portugal, o povo estava empobrecido com a guerra contra Napoleão e o comércio bastante
prejudicado com a abertura dos portos brasileiros. Os portugueses estavam
insatisfeitos e, em 1820, estourou a Revolução Liberal do Porto, cidade ao
norte de Portugal. Os rebeldes convocaram eleições para as Cortes (parlamento
português). A maioria dos parlamentares desta Corte passou a exigir a volta de D
João VI e a expulsão dos governantes estrangeiros (ingleses). Queriam também
que o comércio do Brasil voltasse a ser feito exclusivamente pelos comerciantes
portugueses (volta do pacto colonial).
Cedendo
às pressões de Portugal, D. João resolveu que a melhor solução para esses
problemas era sua volta para Portugal, a qual se deu em 26 de abril de 1821.
Levou consigo o dinheiro e o ouro do Banco do Brasil, porém, aqui ficou seu
filho, D. Pedro, como príncipe regente do Brasil, satisfazendo
desta forma não só os portugueses, mas também os brasileiros,
que tinham lucrado com a vinda da corte portuguesa para o Brasil, especialmente
com a abertura dos portos.
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INDEPENDÊNCIA
DO BRASIL
A corte Portuguesa voltou a
Portugal. A Corte Constituinte de Lisboa, composta por 130 deputados
portugueses e apenas 45 brasileiros, elaborava uma Constituição. Os deputados
portugueses desejavam que o Brasil voltasse à condição de Colônia, a volta do
pacto colonial, a transferência dos órgãos administrativos criados aqui para
Portugal. Exigiam a completa obediência do Brasil às ordens vindas da metrópole
e queriam limitar o governo de D. Pedro apenas ao Rio de Janeiro. Para não ter
seu poder limitado pela Constituição quando chegasse ao trono português, D. Pedro
passou a ser adversário da Constituinte Portuguesa.
No dia 9 de dezembro de 1821, o governo
brasileiro voltou a ser dependente de
Portugal. Dom Pedro recebeu ordens para voltar a Portugal, mas o Partido
Brasileiro, grupo formado por grandes fazendeiros, comerciantes e altos
funcionários públicos, o convenceu a ficar. O regente recebeu listas com
assinaturas de cerca de 8.000 pessoas pedindo que ele permanecesse no país. Em
9 de janeiro de 1822, apoiado pelas províncias do Rio de Janeiro, São Paulo e
Minas Gerais, D. Pedro decidiu permanecer. Ele foi à sacada e disse: "Se é
para o bem de todos e felicidade geral da nação, diga ao povo que fico!".
Essa data ficou conhecida como o Dia do
Fico.
Portugal não aceitou
pacificamente a decisão de Dom Pedro. As tropas portuguesas sediadas no Rio de
Janeiro tentaram forçá-lo a embarcar, o povo reagiu em defesa de Dom Pedro .
Pressionadas, essas tropas voltaram para Portugal.
Dom Pedro estimulado pelo
entusiasmo popular tomou novas decisões. Primeiramente reformou o ministério
dando-lhe força e unidade. Para isso nomeou a 16 de janeiro de 1822, José
Bonifácio de Andrada e Silva, como Ministro dos Negócios do Interior, da
Justiça e dos Estrangeiros. Em 04 de abril, aconselhado por José Bonifácio,
decretou que as ordens vindas de Portugal, só teriam valor se aprovadas por
ele, enfrentando as exigências da Corte (Lei do Cumpra-se).
Em 03 de junho de 1822, convocou
uma Assembleia Nacional Constituinte para fazer as novas leis do Brasil. Isso
significava que, definitivamente, os brasileiros fariam as próprias leis, ou
seja, na prática o Brasil já era independente.
As agitações populares
tomaram conta das ruas nas principais cidades brasileiras. Em 1º de agosto Dom
Pedro dirigiu um manifesto aos brasileiros, convocando-os a se unirem. Em 06 de
agosto, dirigiu outro manifesto às nações exigindo o reconhecimento, pelos
outros povos, dos direitos do Brasil.
No dia 14 de agosto, Dom Pedro partiu para a
província de São Paulo que se encontrava agitada por lutas internas (na
realidade, veio ver sua amante a Marquesa de Santos, D. Domitila). A Regência
do governo ficou entregue à sua esposa D. Leopoldina. Durante a sua ausência,
chegou ao Rio de Janeiro uma carta das Cortes Portuguesas, na qual exigia a
volta imediata de D. Pedro a Portugal e a anulação da convocação da Assembleia
Nacional Constituinte.
Leopoldina e José Bonifácio
enviaram um correio para levar essa carta a D. Pedro e enviam outra carta: cada
um reforçava a ideia de que havia chegado a hora de tomar uma decisão.
Dom Pedro estava voltando de
São Paulo, após uma viagem a Santos. Era 07 de setembro de 1822, quando o
correio alcançou Dom Pedro às margens do Riacho Ipiranga. A carta das Cortes
anulava seus atos no Brasil e ameaçava fazê-lo regressar à força. A princesa
Leopoldina recomendava prudência, mas José Bonifácio era alarmante,
comunicando-lhe que além de seiscentos soldados lusitanos que já haviam
desembarcado na Bahia, outros sete mil estavam em treinamento, para serem
colocados em todo o Norte do Brasil. Terminava afirmando: "Só existem dois
caminhos: ou voltar para Portugal como prisioneiro das cortes portuguesas ou
proclamar a Independência, tornando-se imperador do Brasil".
Dom Pedro sabia que o Brasil
esperava dele uma atitude. Depois de ler, amassou e pisoteou as cartas, montou
seu cavalo e cavalgou até às margens do Ipiranga e gritou à guarda de honra:
"Amigos, as cortes de Lisboa nos oprimem e querem nos escravizar... Deste
dia em diante, nossas relações estão rompidas".
Após arrancar as insígnias
de cores azuis e brancas de seu uniforme, o príncipe sacou a espada e gritou:
" Por meu sangue, por minha honra e por Deus, farei do Brasil um país
livre", em seguida, erguendo a espada, afirmou: "Brasileiros, de hoje
em diante nosso lema será: Independência ou Morte!".
A notícia se espalhou por
todo o Brasil. O povo cantou e dançou nas ruas. O Brasil não era mais uma nação
acorrentada. No dia seguinte, D. Pedro iniciou a viagem de retorno ao Rio de
Janeiro. Na capital foi saudado como herói. No dia 1º de dezembro de 1822, aos
24 anos, foi coroado imperador do Brasil
e recebeu o título de Dom Pedro I.
A
independência do Brasil foi liderada pelas elites,
interessadas em manter a liberdade de comércio, ampliar a autonomia
administrativa e conservar seus privilégios, mantendo a maioria do povo afastado
da política. Isso explica por que o projeto de independência vitorioso
manteve no Brasil: a monarquia, a escravidão e a grande propriedade.
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